Se hoje eu acordasse
sobre as ondas
Eu saberia quem sabe
sobre os coisas
As razões que pensei
ontem a noite
Sobre o nosso amor
quarta-feira, 13 de março de 2002
sexta-feira, 1 de março de 2002
Arte Moderna e socialismo
------------------------------------------------------------------------
[Carta aberta aos meus amigos comunistas]
------------------------------------------------------------------------
TEXTO INÉDITO DOS ANOS 40 EM QUE
O ARQUITETO EXPLICA O NOVO PAPEL
QUE O ARTISTA DEVE DESEMPENHAR
NA SOCIEDADE
Por Lucio Costa
A presunção de ser a "arte pela arte" antítese da "arte social" é tão destituída de sentido como a antinomia "arte figurativa-arte abstrata", não passando, em verdade, de uma deformação teórica elaborada de início por algum estudioso versado em sociologia e, depois, inexplicavelmente aceita pela crítica de arte, a título de tabu, assim como se fosse, por exemplo, ato condenável a prática do bem só por bondade. Toda arte plástica verdadeira terá sempre de ser, antes de mais nada, arte pela arte, pois o que a haverá de distinguir das outras manifestações culturais é o impulso desinteressado e invencível no sentido de uma determinada forma plástica de expressão.
Quando todos os demais fatores direta ou indiretamente necessários à sua manifestação estejam presentes -inclusive o social- e esse impulso desinteressado e invencível faltar, a obra poderá ser documento do que quiserem, mas não terá maior significação como arte. É ele, portanto, o resíduo a que, em última análise, a obra de arte se reduz. Não se trata de uma quinta-essência, como tantos supõem, mas da própria substância do fato artístico, ou seja, do seu germe vital. É o que garantirá a permanência da obra no tempo, quando aqueles demais fatores que lhe condicionaram a ocorrência já houverem deixado de atuar sobre ela, e isso não apenas como testemunho de uma civilização perecida mas como manifestação ainda viva e, para sempre, atual.
O sentido social das obras de arte do passado nunca se manifestou como intervenção deliberada de sentido artístico, senão como decorrência das determinações de um programa religioso, civil ou militar bem definido, entendendo-se por aí não somente a discriminação pormenorizada dos requisitos, como a intenção que os preside e ordena, e das naturais limitações de tempo e lugar impostas pelo próprio caráter restrito do meio físico e social. Em consequência, o amadurecimento das soluções apropriadas para cada caso se processava por etapas, e a unanimidade e constância da aplicação artística num sentido plástico determinado perdurava até quando se esgotassem as suas possibilidades expressivas, e adviesse a introdução de novos elementos formais susceptíveis de provocar a quebra daquela unanimidade consentida, servindo ainda de incentivo as faculdades criadoras no sentido estimulante da descoberta, único capaz de produzir novo surto generalizado de expansão.
Essa unanimidade, comprovada até princípios do século 19, decorria do fato de as manifestações artísticas não se limitarem à obra dos mestres e seus discípulos, mas abrangerem também a totalidade dos ofícios, isto é, o conjunto das atividades operárias manufatureiras.
A quebra desse sentido totalitário que sempre prevaleceu nas manifestações artísticas do passado -definindo o estilo de cada época- não se deveu nem a caprichos individualistas exacerbados nem a maquinações diversionistas das classes dirigentes ou à especulação comercial, tal como se pretende agora, confundindo alguns dos seus efeitos mais evidentes com a verdadeira causa. Ela resultou da mesma fatalidade histórica inelutável que deu origem ao socialismo contemporâneo: a revolução industrial do século passado. Pois desde então, e devido à produção mecânica sempre mais apurada de artefatos, a arte não só desgarrou das atividades industriais, dantes seu legítimo domínio, como também, no que se refere à pintura, perdeu a exclusividade como processo de historiar pela imagem ou de representar objetos, cenas e pessoas, função a que sempre estivera associada no passado e já agora igualmente absorvida pela técnica mecanizada de alta precisão que, por sua vez, deu origem à nova modalidade mais complexa de expressão plástica -o "cinema".
Despojados do que sempre lhes pareceu inalienável, insulados no seu desajuste cada vez maior com a sociedade, se viram assim os artistas na contingência de reconsiderar os problemas fundamentais da arte, partindo de novo, como os povos primitivos, da estaca zero. Não foi, pois, o seu apregoado "individualismo" que provocou o desencontro com a opinião pública, mas a própria crise do ofício e a consequente incompreensão e hostilidade do meio social cujos preconceitos impediam de alcançar o sentido verdadeiro da revolução plástica em curso, tal como não deixavam perceber o sentido profundo da revolução social latente -que os forçaram ao isolamento. A culpa não cabe aos artistas, porquanto apesar de repudiados pela burguesia souberam sempre afirmar, com acintoso desprezo e insopitada paixão, a legitimidade de sua arte renovada.
Os conceitos modernos de arte -desde Courbet até Picasso- não são, portanto, na sua essência, invenções arbitrárias do capricho individual ou manifestações de decadência da sociedade burguesa capitalista, mas sim, pelo contrário, irmãos legítimos do socialismo moderno, pois que tiveram origem comum e, como tal, ainda haverão de encontrar-se.
Precisamente esse poder de invenção desinteressada e de livre expansão criadora, que tanto se lhes recrimina, é que poderá vir a desempenhar, dentro em breve, graças à aparência fácil de "improvisação" que lhe é própria, uma função social de alcance decisivo, passando a constituir, de modo imprevisto, o fundamento mesmo de uma arte vigorosa e pura, de sentido otimista, digna portanto de um proletariado cada vez mais senhor do seu destino.
Refiro-me à utilização dessa concepção renovada das artes plásticas, como derivativo providencial ou, melhor, como complemento lógico, para compensar a monótona tensão e a rudeza opressiva do trabalho cotidiano nas indústrias leves e pesadas, ou nas duras tarefas do desbravamento e da construção, pois que ela viria dar vazão aos naturais anseios de fantasia individual e livre escolha, reprimidos devido à regularidade dos gestos impostos pelo trabalho mecânico, quando dantes encontravam aplicação obrigatória e escoadouro normal no próprio desempenho de cada ofício graças ao fundo de iniciativa e critério pessoal inerente às técnicas manuais do artesanato. A aplicação social das artes plásticas como forma ativa de evasão e reabilitação psicológica individual e coletiva, e visando, como o esporte, ao recreio desinteressado da massa anônima do proletariado nas suas horas de lazer, proporcionaria então, à arte moderna, sempre pronta na sua permanente disponibilidade à aceitação de qualquer disciplina, precisamente o que lhe falta, e que não é tal como geralmente se pretende, sentido popular, mas raízes proletárias, o que é muito diferente.
O coração das massas
E não só raízes proletárias, mas participação da própria coletividade no seu processo de evolução, o que lhe viria conferir conteúdo humano mais rico e sentido plástico diferente, pois da mesma forma que a prática dos esportes, visando, originalmente, o bem-estar individual, por meio do exercício físico (com repercussão no comportamento moral do indivíduo perante a sociedade), criou, depois, graças ao conhecimento generalizado das "regras do jogo" e ao natural desenvolvimento do espírito de competição, a paixão coletiva pelas demonstrações individuais ou associadas de excepcional perícia, assim, também, a prática desinteressada das artes plásticas, visando apenas, inicialmente, ao bem-estar físico de cada um, por meio do exercício de suas faculdades criadoras, acabaria por estabelecer, pela convergência da curiosidade e o encantamento da descoberta dessa nova forma de linguagem -ou seja, das regras do seu jogo- e pelo mesmo espírito natural de competição, o clima indispensável de comunhão de interesses, bem como os conhecimentos técnicos adequados ao surto eventual de uma arte legitimamente proletária.
Mas, como é preciso semear para colher, caberia "mobilizar" os velhos mestres, criadores geniais da arte do nosso tempo, a fim de que dedicassem o resto de suas vidas preciosas à tarefa benemérita de plantar, no meio agreste dos maiores centros industriais e agrícolas do novo mundo socialista, as sementes de uma futura renascença.
Da massa de homens e mulheres absorvidos nessa experiência generalizada haveriam de surgir, com o tempo, os mais dotados de intuição plástica, e destes, finalmente, os artistas maiúsculos possuídos de paixão criadora e capazes não só de "eletrizar" as multidões -como os campeões olímpicos e os acrobatas de circo-, mas de comovê-las com as suas obras, seja por sua feição épica monumental, seja pela intenção íntima e pessoal limitadíssima de sua concepção, já que é esse, tantas vezes, o caminho mais curto para o coração das massas, predispostas sempre a captar o sentido secreto da confissão dos homens, pois há algo de comum à experiência individual de cada um de nós.
O que ficou acima exposto poderá constituir, então, a síntese da seguinte antinomia calcada nos fatos da realidade contemporânea:
tese -a arte moderna é considerada por certa crítica capitalista como arte revolucionária, patrocinada pelo comunismo ateu no intuito de desmoralizar e solapar os fundamentos da sociedade burguesa;
antítese -a arte moderna é considerada, por determinada crítica comunista, arte reacionária patrocinada pela plutocracia capitalista com propósitos diversionistas a fim de afastar os intelectuais da causa popular; síntese -a arte moderna deve ser considerada o complemento lógico do socialismo contemporâneo, pois resultou das mesmas causas e tem por função, do ponto de vista restrito da aplicação social, dar vazão natural aos anseios legítimos de livre escolha e fantasia individual ou coletiva da massa proletária, oprimida pela rudeza e monotonia do trabalho mecânico impostas pelas técnicas modernas de produção.
Constatado, assim, o sentido social imprevisto da arte moderna, que de origem fundamentalmente desinteressada passa a traduzir-se em termos funcionais de estrita utilidade, e assentadas igualmente, desse modo, as bases definitivas do seu ulterior desenvolvimento -pois já não se tratará mais de atribuir exclusivamente a uma pseudoelite de artistas o papel intermediário de intérprete perante as massas, e sim de provocar a participação direta do próprio povo no processo geral da formação de uma consciência artística contemporânea-, há que deixar os artistas seguirem cada qual o seu caminho, confiando na genialidade dos precursores eventuais, no talento dos mestres e na acuidade compreensiva dos discípulos, porque, havendo tais qualidades, todos os rumos serão válidos, tanto os que conduzem ao neo-realismo, já agora enriquecido pelas aquisições fecundas da experiência moderna, como os que levam à pureza plástica auto-suficiente do neoformalismo; predomine a concepção lírica da forma ou seu conteúdo expressionista; trate-se da interpretação renovada dos temas consagrados ou da possível glorificação épica dos fastos do porvir. É da multiplicidade de tais contribuições, aparentemente contraditórias, que se haverão de constituir do modo mais natural, no momento oportuno, os vários estilos dignos de marcar no tempo as fases sucessivas do desenvolvimento cultural do novo mundo socialista naquilo que respeite aos meios plásticos de expressão.
E assim, admitido o socialismo como finalidade necessária da revolução industrial -de que o desenvolvimento capitalista dos últimos cem anos, com os benefícios que propiciou e as misérias que impôs, representa apenas a fase preliminar, portanto transitória-, e reconhecido, em consequência, o sentido anti-social de toda e qualquer ação diversionista que possa contribuir para retardar o andamento de tal processo, ter-se-á, a título de conclusão, o seguinte corolário político: nas democracias populares dos países socialistas a arte moderna deve ter âmbito proletário, ao passo que nas democracias liberais dos países capitalistas deve restringir-se, de preferência, aos meios culturais.
Fonte: Folha de SP
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[Carta aberta aos meus amigos comunistas]
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TEXTO INÉDITO DOS ANOS 40 EM QUE
O ARQUITETO EXPLICA O NOVO PAPEL
QUE O ARTISTA DEVE DESEMPENHAR
NA SOCIEDADE
Por Lucio Costa
A presunção de ser a "arte pela arte" antítese da "arte social" é tão destituída de sentido como a antinomia "arte figurativa-arte abstrata", não passando, em verdade, de uma deformação teórica elaborada de início por algum estudioso versado em sociologia e, depois, inexplicavelmente aceita pela crítica de arte, a título de tabu, assim como se fosse, por exemplo, ato condenável a prática do bem só por bondade. Toda arte plástica verdadeira terá sempre de ser, antes de mais nada, arte pela arte, pois o que a haverá de distinguir das outras manifestações culturais é o impulso desinteressado e invencível no sentido de uma determinada forma plástica de expressão.
Quando todos os demais fatores direta ou indiretamente necessários à sua manifestação estejam presentes -inclusive o social- e esse impulso desinteressado e invencível faltar, a obra poderá ser documento do que quiserem, mas não terá maior significação como arte. É ele, portanto, o resíduo a que, em última análise, a obra de arte se reduz. Não se trata de uma quinta-essência, como tantos supõem, mas da própria substância do fato artístico, ou seja, do seu germe vital. É o que garantirá a permanência da obra no tempo, quando aqueles demais fatores que lhe condicionaram a ocorrência já houverem deixado de atuar sobre ela, e isso não apenas como testemunho de uma civilização perecida mas como manifestação ainda viva e, para sempre, atual.
O sentido social das obras de arte do passado nunca se manifestou como intervenção deliberada de sentido artístico, senão como decorrência das determinações de um programa religioso, civil ou militar bem definido, entendendo-se por aí não somente a discriminação pormenorizada dos requisitos, como a intenção que os preside e ordena, e das naturais limitações de tempo e lugar impostas pelo próprio caráter restrito do meio físico e social. Em consequência, o amadurecimento das soluções apropriadas para cada caso se processava por etapas, e a unanimidade e constância da aplicação artística num sentido plástico determinado perdurava até quando se esgotassem as suas possibilidades expressivas, e adviesse a introdução de novos elementos formais susceptíveis de provocar a quebra daquela unanimidade consentida, servindo ainda de incentivo as faculdades criadoras no sentido estimulante da descoberta, único capaz de produzir novo surto generalizado de expansão.
Essa unanimidade, comprovada até princípios do século 19, decorria do fato de as manifestações artísticas não se limitarem à obra dos mestres e seus discípulos, mas abrangerem também a totalidade dos ofícios, isto é, o conjunto das atividades operárias manufatureiras.
A quebra desse sentido totalitário que sempre prevaleceu nas manifestações artísticas do passado -definindo o estilo de cada época- não se deveu nem a caprichos individualistas exacerbados nem a maquinações diversionistas das classes dirigentes ou à especulação comercial, tal como se pretende agora, confundindo alguns dos seus efeitos mais evidentes com a verdadeira causa. Ela resultou da mesma fatalidade histórica inelutável que deu origem ao socialismo contemporâneo: a revolução industrial do século passado. Pois desde então, e devido à produção mecânica sempre mais apurada de artefatos, a arte não só desgarrou das atividades industriais, dantes seu legítimo domínio, como também, no que se refere à pintura, perdeu a exclusividade como processo de historiar pela imagem ou de representar objetos, cenas e pessoas, função a que sempre estivera associada no passado e já agora igualmente absorvida pela técnica mecanizada de alta precisão que, por sua vez, deu origem à nova modalidade mais complexa de expressão plástica -o "cinema".
Despojados do que sempre lhes pareceu inalienável, insulados no seu desajuste cada vez maior com a sociedade, se viram assim os artistas na contingência de reconsiderar os problemas fundamentais da arte, partindo de novo, como os povos primitivos, da estaca zero. Não foi, pois, o seu apregoado "individualismo" que provocou o desencontro com a opinião pública, mas a própria crise do ofício e a consequente incompreensão e hostilidade do meio social cujos preconceitos impediam de alcançar o sentido verdadeiro da revolução plástica em curso, tal como não deixavam perceber o sentido profundo da revolução social latente -que os forçaram ao isolamento. A culpa não cabe aos artistas, porquanto apesar de repudiados pela burguesia souberam sempre afirmar, com acintoso desprezo e insopitada paixão, a legitimidade de sua arte renovada.
Os conceitos modernos de arte -desde Courbet até Picasso- não são, portanto, na sua essência, invenções arbitrárias do capricho individual ou manifestações de decadência da sociedade burguesa capitalista, mas sim, pelo contrário, irmãos legítimos do socialismo moderno, pois que tiveram origem comum e, como tal, ainda haverão de encontrar-se.
Precisamente esse poder de invenção desinteressada e de livre expansão criadora, que tanto se lhes recrimina, é que poderá vir a desempenhar, dentro em breve, graças à aparência fácil de "improvisação" que lhe é própria, uma função social de alcance decisivo, passando a constituir, de modo imprevisto, o fundamento mesmo de uma arte vigorosa e pura, de sentido otimista, digna portanto de um proletariado cada vez mais senhor do seu destino.
Refiro-me à utilização dessa concepção renovada das artes plásticas, como derivativo providencial ou, melhor, como complemento lógico, para compensar a monótona tensão e a rudeza opressiva do trabalho cotidiano nas indústrias leves e pesadas, ou nas duras tarefas do desbravamento e da construção, pois que ela viria dar vazão aos naturais anseios de fantasia individual e livre escolha, reprimidos devido à regularidade dos gestos impostos pelo trabalho mecânico, quando dantes encontravam aplicação obrigatória e escoadouro normal no próprio desempenho de cada ofício graças ao fundo de iniciativa e critério pessoal inerente às técnicas manuais do artesanato. A aplicação social das artes plásticas como forma ativa de evasão e reabilitação psicológica individual e coletiva, e visando, como o esporte, ao recreio desinteressado da massa anônima do proletariado nas suas horas de lazer, proporcionaria então, à arte moderna, sempre pronta na sua permanente disponibilidade à aceitação de qualquer disciplina, precisamente o que lhe falta, e que não é tal como geralmente se pretende, sentido popular, mas raízes proletárias, o que é muito diferente.
O coração das massas
E não só raízes proletárias, mas participação da própria coletividade no seu processo de evolução, o que lhe viria conferir conteúdo humano mais rico e sentido plástico diferente, pois da mesma forma que a prática dos esportes, visando, originalmente, o bem-estar individual, por meio do exercício físico (com repercussão no comportamento moral do indivíduo perante a sociedade), criou, depois, graças ao conhecimento generalizado das "regras do jogo" e ao natural desenvolvimento do espírito de competição, a paixão coletiva pelas demonstrações individuais ou associadas de excepcional perícia, assim, também, a prática desinteressada das artes plásticas, visando apenas, inicialmente, ao bem-estar físico de cada um, por meio do exercício de suas faculdades criadoras, acabaria por estabelecer, pela convergência da curiosidade e o encantamento da descoberta dessa nova forma de linguagem -ou seja, das regras do seu jogo- e pelo mesmo espírito natural de competição, o clima indispensável de comunhão de interesses, bem como os conhecimentos técnicos adequados ao surto eventual de uma arte legitimamente proletária.
Mas, como é preciso semear para colher, caberia "mobilizar" os velhos mestres, criadores geniais da arte do nosso tempo, a fim de que dedicassem o resto de suas vidas preciosas à tarefa benemérita de plantar, no meio agreste dos maiores centros industriais e agrícolas do novo mundo socialista, as sementes de uma futura renascença.
Da massa de homens e mulheres absorvidos nessa experiência generalizada haveriam de surgir, com o tempo, os mais dotados de intuição plástica, e destes, finalmente, os artistas maiúsculos possuídos de paixão criadora e capazes não só de "eletrizar" as multidões -como os campeões olímpicos e os acrobatas de circo-, mas de comovê-las com as suas obras, seja por sua feição épica monumental, seja pela intenção íntima e pessoal limitadíssima de sua concepção, já que é esse, tantas vezes, o caminho mais curto para o coração das massas, predispostas sempre a captar o sentido secreto da confissão dos homens, pois há algo de comum à experiência individual de cada um de nós.
O que ficou acima exposto poderá constituir, então, a síntese da seguinte antinomia calcada nos fatos da realidade contemporânea:
tese -a arte moderna é considerada por certa crítica capitalista como arte revolucionária, patrocinada pelo comunismo ateu no intuito de desmoralizar e solapar os fundamentos da sociedade burguesa;
antítese -a arte moderna é considerada, por determinada crítica comunista, arte reacionária patrocinada pela plutocracia capitalista com propósitos diversionistas a fim de afastar os intelectuais da causa popular; síntese -a arte moderna deve ser considerada o complemento lógico do socialismo contemporâneo, pois resultou das mesmas causas e tem por função, do ponto de vista restrito da aplicação social, dar vazão natural aos anseios legítimos de livre escolha e fantasia individual ou coletiva da massa proletária, oprimida pela rudeza e monotonia do trabalho mecânico impostas pelas técnicas modernas de produção.
Constatado, assim, o sentido social imprevisto da arte moderna, que de origem fundamentalmente desinteressada passa a traduzir-se em termos funcionais de estrita utilidade, e assentadas igualmente, desse modo, as bases definitivas do seu ulterior desenvolvimento -pois já não se tratará mais de atribuir exclusivamente a uma pseudoelite de artistas o papel intermediário de intérprete perante as massas, e sim de provocar a participação direta do próprio povo no processo geral da formação de uma consciência artística contemporânea-, há que deixar os artistas seguirem cada qual o seu caminho, confiando na genialidade dos precursores eventuais, no talento dos mestres e na acuidade compreensiva dos discípulos, porque, havendo tais qualidades, todos os rumos serão válidos, tanto os que conduzem ao neo-realismo, já agora enriquecido pelas aquisições fecundas da experiência moderna, como os que levam à pureza plástica auto-suficiente do neoformalismo; predomine a concepção lírica da forma ou seu conteúdo expressionista; trate-se da interpretação renovada dos temas consagrados ou da possível glorificação épica dos fastos do porvir. É da multiplicidade de tais contribuições, aparentemente contraditórias, que se haverão de constituir do modo mais natural, no momento oportuno, os vários estilos dignos de marcar no tempo as fases sucessivas do desenvolvimento cultural do novo mundo socialista naquilo que respeite aos meios plásticos de expressão.
E assim, admitido o socialismo como finalidade necessária da revolução industrial -de que o desenvolvimento capitalista dos últimos cem anos, com os benefícios que propiciou e as misérias que impôs, representa apenas a fase preliminar, portanto transitória-, e reconhecido, em consequência, o sentido anti-social de toda e qualquer ação diversionista que possa contribuir para retardar o andamento de tal processo, ter-se-á, a título de conclusão, o seguinte corolário político: nas democracias populares dos países socialistas a arte moderna deve ter âmbito proletário, ao passo que nas democracias liberais dos países capitalistas deve restringir-se, de preferência, aos meios culturais.
Fonte: Folha de SP
terça-feira, 19 de fevereiro de 2002
Afinal, é por que, porque, por quê ou porquê?
Todas as formas estão corretas,
desde que usadas no lugar certo.
A primeira explicação diz que o "por que"
vai nas perguntas e o "porque" nas respostas:
- Por que você não liga a televisão?
- Porque agora estou lendo um livro.
É preciso entender, no entanto, que nem
sempre o "por que" vai na frase que tem
ponto de interrogação no final e o "porque"
na frase afirmativa, aquela que termina
com ponto final. Quer ver?
"Como e por que ler"
Este é o título de um livro escrito pelo
crítico literário Harold Bloom, publicado
no Brasil pela editora Objetiva. A editora
acertou em cheio: o "por que" vem separado
sempre que estiver subentendida a idéia
de motivo. Qual o motivo para ler?
Por outro lado, se alguém fizesse
a seguinte pergunta:
- Você gosta de ler porque aprende com os livros?
Nesse caso, é "porque" mesmo, ainda
que esteja na pergunta. Toda vez que na
pergunta se formula a hipótese de uma
resposta, o "porque" é junto.
- Você não veio porque choveu?
- Você não foi trabalhar porque estava doente?
O "por que" separado é usado também
toda vez que expressar "por qual",
"pelo qual", "pela qual", "pelos quais",
"pelas quais".
- Só eu sei as esquinas por que passei.
- Eu não sei as razões por que
ela se recusa a falar comigo.
Tudo bem, e o "por quê" e o "porquê"?
"Por quê" é sempre no final da frase:
- Parou por quê? Por que parou?
(Note que na segunda pergunta
é sem acento, pois não está no final da frase.)
- Ele nunca mais veio aqui. Sabe por quê?
E, finalmente, o "porquê" acontece quando
a palavra tem função de substantivo.
Esse "porquê" pode ser perfeitamente
substituído por outros substantivos,
como "motivo", "causa", "razão", "pergunta".
- Queremos saber o porquê de tudo isso.
(Queremos saber o motivo).
- Ela nunca explica os porquês de suas escolhas literárias.
(Os motivos, ou as razões).
- Ainda ficou um "porquê" no ar.
(Uma pergunta no ar).
Fonte: site Geração Books 19 de Fevereiro 2002
Todas as formas estão corretas,
desde que usadas no lugar certo.
A primeira explicação diz que o "por que"
vai nas perguntas e o "porque" nas respostas:
- Por que você não liga a televisão?
- Porque agora estou lendo um livro.
É preciso entender, no entanto, que nem
sempre o "por que" vai na frase que tem
ponto de interrogação no final e o "porque"
na frase afirmativa, aquela que termina
com ponto final. Quer ver?
"Como e por que ler"
Este é o título de um livro escrito pelo
crítico literário Harold Bloom, publicado
no Brasil pela editora Objetiva. A editora
acertou em cheio: o "por que" vem separado
sempre que estiver subentendida a idéia
de motivo. Qual o motivo para ler?
Por outro lado, se alguém fizesse
a seguinte pergunta:
- Você gosta de ler porque aprende com os livros?
Nesse caso, é "porque" mesmo, ainda
que esteja na pergunta. Toda vez que na
pergunta se formula a hipótese de uma
resposta, o "porque" é junto.
- Você não veio porque choveu?
- Você não foi trabalhar porque estava doente?
O "por que" separado é usado também
toda vez que expressar "por qual",
"pelo qual", "pela qual", "pelos quais",
"pelas quais".
- Só eu sei as esquinas por que passei.
- Eu não sei as razões por que
ela se recusa a falar comigo.
Tudo bem, e o "por quê" e o "porquê"?
"Por quê" é sempre no final da frase:
- Parou por quê? Por que parou?
(Note que na segunda pergunta
é sem acento, pois não está no final da frase.)
- Ele nunca mais veio aqui. Sabe por quê?
E, finalmente, o "porquê" acontece quando
a palavra tem função de substantivo.
Esse "porquê" pode ser perfeitamente
substituído por outros substantivos,
como "motivo", "causa", "razão", "pergunta".
- Queremos saber o porquê de tudo isso.
(Queremos saber o motivo).
- Ela nunca explica os porquês de suas escolhas literárias.
(Os motivos, ou as razões).
- Ainda ficou um "porquê" no ar.
(Uma pergunta no ar).
Fonte: site Geração Books 19 de Fevereiro 2002
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2002
terça-feira, 29 de janeiro de 2002
Logo cedo.
Não posso deixar de me estressar
com pequenas coisas do dia-a-dia.
Logo cedo.
Deixei mas uma vez de ouvir a voz interior.
Acabei me deixando levar por opniões alheias,
e alterei um trabalho (um quadro) que já tinha
concluído. Pela segunda vez em uma semana.
Logo cedo.
Não gostei nem um pouco do resultado.
Não posso deixar de me estressar
com pequenas coisas do dia-a-dia.
Logo cedo.
Deixei mas uma vez de ouvir a voz interior.
Acabei me deixando levar por opniões alheias,
e alterei um trabalho (um quadro) que já tinha
concluído. Pela segunda vez em uma semana.
Logo cedo.
Não gostei nem um pouco do resultado.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2002
Bob Marley Movement is proud to present..
The 9th Annual Bob Marley Caribbean Festival
Saturday, February 9, 2002
Virginia Key Beach, Miami, Florida
sábado, 5 de janeiro de 2002
sexta-feira, 4 de janeiro de 2002
vício
[Do lat. vitiu, por via erudita.] S. m.
1. Defeito grave que torna uma pessoa ou coisa inadequadas para certos fins ou funções.
2. Inclinação para o mal. [Nesta acepç., opõe-se a virtude (1).]
3. Costume de proceder mal; desregramento habitual.
4. Conduta ou costume censurável ou condenável; libertinagem, licenciosidade, devassidão.
5. Qualquer deformação física ou funcional.
6. Costume prejudicial; costumeira: Tem o vício de roer unhas; Este cavalo tem o vício de derrubar o cavaleiro.
7. Jur. Defeito que pode invalidar um ato jurídico.
8. Psiq. Prática irresistível de mau hábito, em especial de consumo de bebida alcoólica, de droga.
9. Bras. N.E. Pop. O hábito de comer terra; geofagia.
10. Bras. N.E. MG V. cio (1). [Cf. vicio, do v. viciar.]
Vício de linguagem. E. Ling. 1. Uso lingüístico que foge à norma (5), como no caso dos barbarismos.
Vício de refração. Oftalm. 1. Distúrbio visual em que o processamento normal da refração (3) está alterado.
Vício solitário. 1. A automasturbação.
Comer vício. Bras. N.E. Pop. 1. Praticar a geofagia; comer terra.
Despontar o vício. Bras. S. 1. Contentar-se com pouco, ou com coisa parecida, ao satisfazer um vício: Parou de fumar, porém às vezes ainda desponta o vício fumando um cigarrinho.
Fonte: Novo Aurélio
[Do lat. vitiu, por via erudita.] S. m.
1. Defeito grave que torna uma pessoa ou coisa inadequadas para certos fins ou funções.
2. Inclinação para o mal. [Nesta acepç., opõe-se a virtude (1).]
3. Costume de proceder mal; desregramento habitual.
4. Conduta ou costume censurável ou condenável; libertinagem, licenciosidade, devassidão.
5. Qualquer deformação física ou funcional.
6. Costume prejudicial; costumeira: Tem o vício de roer unhas; Este cavalo tem o vício de derrubar o cavaleiro.
7. Jur. Defeito que pode invalidar um ato jurídico.
8. Psiq. Prática irresistível de mau hábito, em especial de consumo de bebida alcoólica, de droga.
9. Bras. N.E. Pop. O hábito de comer terra; geofagia.
10. Bras. N.E. MG V. cio (1). [Cf. vicio, do v. viciar.]
Vício de linguagem. E. Ling. 1. Uso lingüístico que foge à norma (5), como no caso dos barbarismos.
Vício de refração. Oftalm. 1. Distúrbio visual em que o processamento normal da refração (3) está alterado.
Vício solitário. 1. A automasturbação.
Comer vício. Bras. N.E. Pop. 1. Praticar a geofagia; comer terra.
Despontar o vício. Bras. S. 1. Contentar-se com pouco, ou com coisa parecida, ao satisfazer um vício: Parou de fumar, porém às vezes ainda desponta o vício fumando um cigarrinho.
Fonte: Novo Aurélio
fogo nas montanhas azuis.
sensacional. copo de extâse.
o corpo que caiu. jazz na calçada.
rio. corpo frio. não tempo.
o começo de uma nova era: já.
eu trago e trago. danada.
bob james jam sessions.
sensacional. copo de extâse.
o corpo que caiu. jazz na calçada.
rio. corpo frio. não tempo.
o começo de uma nova era: já.
eu trago e trago. danada.
bob james jam sessions.
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